Viva e vivida lembrança: Outubro de 1988
Energia
Estás presente como um presente para os homens, para a vida e para além desta vida.
Energia, que cai, brota, emerge como um instrumento, consciente ou inconsciente. És a harpa pacífica e serena, como também és um vulcão em erupção, és uma arma, és amor. És tudo, tudo que quisermos, és um nada – mudo.
Vagas ao léu, barco sem rumo?
Não. Estás em tudo: Nós é que estamos: inconscientes ou conscientes, a ti.
Deleitar-me nas tuas correntes é vida, é só questão de consciência, pois és a harpa ou a arma.
E em meio ao acordar que te indaguei: o mundo te conhece?
Claro que sim. Eu é que não te conhecia consciente.
Leva-me nas correntezas: luz. Deparo-me: luz.
Agacho-me em profunda e sentida humildade qual fruta que leva a semente de sua origem.
São meus pensamentos e emoções que irão fazer esse fruto ser doce ou amargo, nutritivo ou destrutivo.
Energia.
Não nego, existiram momentos que melhor seria não te conhecer. Dormias tranqüila qual criança no leito da minha vida. Teu acordar foi outrora suave, como um bebê, embora fosse imprevisível. Agora é diferente, geras uma força que excede a tudo que já senti. Deparo-me com uma verdade se acaso pára a energia no racional, no ser pensante, a força fica qual redemoinho a gerar emoções.
O que exiges, energia?
Não é mais consciência do foi, é como um pulsar à frente.
- Meu ser pensante é tão difícil dizer-te, fazer-te entender... Não há como deter, se deténs ou reténs a energia é o mesmo que enlouquecer. Entendes? Ficar com a energia em ti tece tantos pensamentos e esses pensamentos trazem tantas emoções: é o redemoinho... E tenho que seguir.
És um aliado, ser pensante, um magnífico aliado, pois tudo corre contigo acordado, consciente. Renda-se à energia que nos leva, ainda não sei onde.
Indaga-me, ser pensante, o tempo inteiro e puxas as emoções. Ah ser pensante, renda-se e deixe que o amor, inundado de energia siga a trilha, e que sintamo-nos conscientes. Queres um exemplo: ao acordar, se existe o indagar, tece-se a rede, as emoções contraditórias. Ao acordar, se simplesmente sentimos a vida, tudo é vida. É neste ponto em que excede-se a energia, como uma expansão, dando-nos força que leva-nos à trilha como para um reino. E ao meu ver, no reino não existe o impossível, existe vida que pulsa e chama.
E lembro-me: quando energia não te conhecia, agia como criança sem muito raciocinar, me levaste e relutei em acreditar. Fugi como adolescente querendo ser autossuficiente negando o sentir e a usar fórmulas, a lógica reinou e levou-me ao profundo abismo, ao fundo do poço e que só vi a claridade da luz acima, quando permiti o sentimento soltar-se, que sedento buscava nutrir-se. Que me fez ver consciente que o amor sentido, é eterno.
Nivelada simplesmente sou. Vejo que as emoções vão e voltam, e o sentir amor permanece. Meu ser e amor permanecem, pois são eternos.
Preciso que seguir o caminho, pois existe o pulsar à frente. Teimar, reter-me ao ser pensante racional, prendo o que sinto.
E todo fica o aprendizado, que em meio à terrível guerra, em mim mesma, surgiu, renasceu meu sentir, que dá-me luz. Estar de acordo com essa sinfonia é sentir o perpetuar, onde o colorido emanado é sutil, é vida, e vida não é para ser entendida e sim ser sentida, simplesmente vida.
O que enxergo a frente: A Ponte.